domingo, 20 de setembro de 2009

"manifesto místico da alegria"

«Rir? Pensamos alguma vez em rir? Quero dizer rir verdadeiramente, além da brincadeira, da troça, do ridículo. Rir, gozo imenso e delicioso, gozo completo…
Dizia à minha irmã, ou dizia-me ela a mim, anda, vamos brincar a rir? Deitávamo-nos lado a lado sobre uma cama e começávamos. A fingir, claro. Risos forçados. Risos ridículos. Risos tão ridículos que nos faziam rir. Então chegava o verdadeiro riso, o riso inteiro, que nos transportava no seu imenso rebentar. Risos sem gargalhadas, redobrados, desordenados, desenfreados, risos magníficos, sumptuosos e loucos… E ríamos até ao infinito do riso dos nossos risos… Oh rir! Rir de prazer, o prazer de rir; rir, é tão profundamente viver.»

Parole de femme, de Annie Leclerc in «Os Anjos» in O livro do riso e do esquecimento, de Milan Kundera

3 comentários:

Teté disse...

Rir é tão bom... :D

Descobri que tenho esse livro, a ver se arranjo um bocadinho para o ler! (o livro era do meu marido em solteiro, daí não saber que o tinha, que os que compro lembro-me bem deles...) :)

Beijocas!

Sónia disse...

Não ri, mas sorri com ternura perante um texto tão doce.

Bj

OAutor disse...

Olá tons de azul!!!

Vi algures este poema que penso vai fazer com que tenhas um "manifesto místico da alegria", aqui vai:

"Receita para fazer o azul

Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areia
do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas a s cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz – eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé – e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu."

Nuno Júdice


Beijinhos azulados!!!

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