quinta-feira, 10 de julho de 2008

Azul 4 | "UMA TARDE NO JARDIM"

O bebé estava deitado no berço, observando atentamente como os seus minúsculos dedos conseguiam movimentar aquela pequena bola azul. Apertava-a, abocanhava-a, rodopiava-a, fascinado com aquela recente descoberta.
Uma pequena sombra acercou-se do berço, e empoleirando-se num banco, espreitou lá para dentro. O rapazito via com curiosidade a brincadeira do bebé, que sorria, encantado. Que mistério teria aquela pequena esfera, para o irmão estar tanto tempo entretido com ela? Retirou-lhe o brinquedo!
Os primeiros protestos, em forma de vagidos, depressa foram abafados pela milagrosa chucha, que lhe foi colocada nos lábios rosados, em jeito de sucedâneo. Adormeceu.
O catraio agora virava a bola e remirava-a tentando perceber a sua serventia. Atirara-a ao chão, não saltara. Atirara-a ao ar, não a agarrara. A solução da incógnita da bola azul parecia cada vez mais longe de alcançar...
Surgiu então perto de si um rapaz mais crescido, que lhe arrancou a esfera das mãos e a pontapeou inúmeras vezes, até ele supôr que era capaz de ser divertido. Se o deixasse jogar, está claro, o que não foi o caso! Estendeu-se na relva macia e, sem bola ou companhia para brincar, as pálpebras venceram a batalha contra o sono e dormiu.
Algum tempo depois, quando preparavam o regresso a casa, a bola foi encontrada num canteiro: suja, molhada, disforme, multicolorida.
Quiseram pô-la no lixo!
Mas um rapazito de 3 anos insistiu que ninguém podia deitar fora a bola do mano...
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Autora: Teté
Blogue:
http://pequenoquiproquo.blogspot.com/

5 comentários:

Susana Júlio disse...

Para além da descoberta, a emoção associadas a essa pequena bola azul. Como forma esférica em si, arrasta inúmeras emoções à sua volta.

Muito humano, muito "nós", muito serenamente bonito.

Rogeriomad disse...

Fez-me lembrar os inúmeros objectos que passaram das mãos dos meus manos para mim...
Agradável de se ler!

Teté disse...

Obrigada Su e Rogeriomad!

E Tons de Azul, está claro... :)))

Kátia disse...

Aí está uma escritora de mão cheia!Fez-me lembrar o "meu pé de laranja lima",pelo tom de descrever o dia-a-dia de uma criança sob o seu próprio ponto de vista.Lindo mesmo!Parabéns!Espero ver mais destes.

carteiro disse...

gostei de ler este conto, no meio de uma série de abstracções azuis :)

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