Não me identifico com livros de autoajuda, mas há uns meses uma amiga emprestou-me este livro de Megan Devine, "Está tudo bem não estar tudo bem". Agradeci-lhe e disse para mim mesma: - Porque não?
Nas primeiras semanas fui avançado nos capítulos, mas depois fiquei meses sem lhe pegar. Ficou esquecido na mesa de cabeceira.
Entretanto voltei a ele vagarosamente e terminei-o. Confirmei que realmente não me identifico com livros deste género. No entanto, a autora foca pontos relevantes, como: o facto das palavras de consolo, por vezes serem tudo menos palavras de consolo; a pressão externa para que o enlutado volte depressa ao normal; a iliteracia emocional e cultura da culpa; o caminho ser extremamente solitário.
A vivência do luto é uma contínua travessia num deserto sem fim. Porque a realidade do luto é difícil e dolorosa e pouco ou nada se fala dela. Há uma cultura em apagar e silenciar o que devia ser falado. A dor de quem fica é minimizada, porque outros também já passaram por isso e não há nada de novo. É a vida! Daí que o luto é um caminho de solidão. Não há preparação e não, não se volta ao normal. Porque não há reparação para o irreparável, porque "o luto não é um problema a resolver" e porque o sofrimento surge em dias banais, como quem escuta: "- Já devias ter ultrapassado isso!"
Não há quem nos ampare a queda constante ao longo dos meses ou anos seguintes. Porque ninguém vai viver, sentir ou enfrentar a dor por nós.
Contudo, do outro lado há o amor, que nos sustém ao de cima, que nos liberta e dá um sentido ao caminho.
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