
«- A boa sorte guia as nossas coisas melhor do que poderíamos desejar; porque vês além amigo Sancho Pança, onde se avistam trinta ou mais descomunais gigantes, com que tenciono travar batalha e tirar a vida a todos, com cujos despojos começaremos a enriquecer; pois esta é uma guerra justa e um grande serviço a Deus tirar tão má semente da facee da Terra.
- Que gigantes? - disse Sancho Pança.
- Aqueles que ali vês - respondeu o amo - de braços compridos, que alguns costumam ter braços de quase duas léguas.
- Olha vossa mercê - respondeu Sancho - que aqueles que além se vêem não são gigantes, mas moinhos de vento, e o que neles parecem braços são as velas que, andando à volta com o vento, fazem girar a pedra do moinho.
- Bem se vê - respondeu D. Quixote - que não tens experiência de aventuras: eles são gigantes; e, se tens medo, sai daí e põe-te a rezar enquanto vou atacá-los numa feroz e arriscada batalha.
E, dizendo isto, esporeou Rocinante, sem fazer caso dos brados que o seu escudeiro Sancho lançava, avisando-o que, sem nenhuma dúvida, eram moinhos de vento, e não gigantes aqueles que ele ia atacar. Mas D. Quixote ia tão certo de que eram gigantes que nem ouvia os brados do seu escudeiro Sancho, nem conseguia ver o que eram, embora estivesse já muito perto; antes ia dizendo em altos gritos:
- Não fujais, cobardes e vis criaturas, que é um único cavaleiro que vos ataca.»
O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes
Nunca tendo lido o livro, esta é uma das passagens mais conhecidas, tanto por filmes como pelos resumos que dele fazem: onde D. Quixote vê gigantes, Sancho só vê vulgares moinhos de vento.
ResponderEliminarO que nos faz pensar que perante uma mesma imagem todos podemos ver objectos diferentes. Quem tem razão? Mistério! Até porque as aparências muitas vezes iludem...
Beijocas e obrigada pelas tuas sugestões de leitura!
Ah! Aquele livro que há tanto quero ler... Talvez esta fosse uma das passagens da obra que mais me arrebatou e fez apaixonar pela figura literária do cavaleiro da triste figura, mas também pelos destemidos moinhos que enganam o vento.
ResponderEliminarObrigada, em muitos tons de azul! :)
Querida amiga: me gustan tus azules molinos de viento, que representan a las ilusiones...
ResponderEliminarTe aviso que mi blog cumple dos años y tú eres de las bloggers que conocí desde el principio.
Simepre eres bienvenida!
Un beso.
Olá, amigos!
ResponderEliminarEsta é sem dúvida uma das obras que mais me maravilhou! Cervantes era um escritor muito à frente da sua época e um extraordinário contador de histórias. Nunca um livro me fascinou tanto! São quase 900 páginas, mas o autor consegue transmitir-nos uma mistura de sentimentos, que mal damos pelo tempo passar.
Sim esta passagem é a mais conhecida de todas as aventuras que o D. Quixote e o seu escudeiro Sancho Pança se metem! Mas todas elas são uma alegria para a alma e para o pensamento! :)
Abraços e beijinhos